sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

I'm back, yes i'm back

Eu disse, certo? Quatro dias. E hoje saiu o resultado. Passei de ano sem DP, passei direto. As faltas mais uma vez não me derrubaram. É um alívio tão grande, nossa! Agora fica aqui a lista:

  • Passar de ano (OK)
  • Emagrecer 10 kg
  • Diminuir meu pessimismo
  • Parar de fumar totalmente
  • Arrumar um namorado fofo, sensível, fiel, romântico e que goste da Lih do jeito que ela é. (terceira pessoa rlz)
Bom... E que venha 2009 ;)

Não tenho nada mais para postar por enquanto.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Quando tudo vai pelo ralo


O Cheiro do Ralo, upload feito originalmente por Aline Wolf.

Quatro dias. Eu deveria ter pensado em toda essa tortura antes de pensar nos malditos "Só mais cinco minutinhos" enquanto estava deitada. Agora essa aflição me consome e eu consegui atingir os níveis mais altos do meu pessimismo. E se tudo der errado? Bom, paciência. Vou colher o que plantei. Decidi semear preguiça e descaso, agora vou colher a desgraça.

Caso eu não poste dentro de quatro ou cinco dias é por que fiquei tremendamente desiludida (ainda mais) e de duas, uma: Ou volto depois de um tempo para desabafar ou não volto mais.

Às vezes eu só queria que tudo desse certo uma vez para que eu me lembrasse como é. Mas para tudo dar certo eu preciso fazer as coisas certas, não? Aí é onde mora o problema. Eu raramente faço algo certo... Mas bem feito.

E que comece a contagem regressiva para, talvez, mais uma possível desgraça.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Wilson's Heart

Fugindo um pouco dos contos que andei postando e voltando olhares para seriados. Hoje estava deitada e dando continuidade ao meu projeto, a TV estava ligada (gosto de ouvir vozes para não me sentir sozinha quando não há mais ninguém em casa, rs) e de repente começa House. Até fechei o Word e parei de escrever. Minha atenção foi parcialmente direcionada ao seriado (outra parte estava no msn em uma interessante conversa com o meu irmão) e me dei ao luxo de viajar com o episódio. Eu não acompanho House (muito menos pela Universal, pois só funciona quando a Net quer, rs) então não fazia idéia de qual temporada ou episódio se tratava, mas mesmo assim acompanhei.

E eis que o episódio é um dos mais adorados da Season Four... Wilson's Heart, o título desse post. Quem acompanha o seriado ou fez como eu, assistiu de surpresa, sabe do que estou falando. Não quer SPOILER? Então pare de ler agora mesmo! Esse episódio merece uma atenção especial... Afinal, é o episódio em que Amber (esposa do Wilson) morre. E ora, eu mal sabia da existência dela! É... Eu realmente preciso assistir mais House. E esse episódio foi a deixa para que eu vá atrás.

Bom, agora sim vou chegar aonde quero. O assunto que quero tratar nesse post é: Emoção X Ficção. Acho melhor exemplificar para facilitar as coisas, não? Semana passada um tio meu faleceu. Legal, nem ao menos me dei o trabalho de ir ao enterro (consideração mandou lembranças lá da China, fato). Se nem lembrava da cara do sujeito, acha que eu ia chorar? Antes ele do que eu, oras. Mas hoje assistindo a um seriado com personagens que todos nós sabemos não existir eu chorei. E eu não acompanho a série, eu nem conhecia a personagem... Mas eu chorei feito uma criancinha medrosa. Aquelas cenas foram tão cheias de emoção, tão... Reais. E eu me entreguei e dei o braço a torcer pelos sentimentos do Wilson. Eu senti a leve culpa de House. Senti a dor dele, senti o pesar de Amber... Senti até por Kutner e a 13 (que possuem desgraças paralelas).

Então... Será que essa vida tecnologica e meio genérica faz bem? Digo... Perdi-me em devaneios sobre sentimentos, importância de certas coisas e no final não cheguei a nenhuma conclusão muito lúcida. Eu realmente recebo um baque violento quando assisto dramas e romances, muito mais até do que na vida real. Acho que na vida real eu crio barreiras para me proteger da dor, mas no mundinho utópico e gostoso... Ah, lá eu sou livre! Lá eu choro por que Gerry morreu. Lá eu choro pelo Wilson e pela morte da Amber. Lá eu dou risada com as palhaçadas dos irmãos Winchester e também chorei com a morte de John. A vida irreal às vezes parece tão mais incrível...

Vale a pena abandonar a vida real para viver sonhando? Posso demonstrar, às vezes, que sim... Mas jamais! Eu gosto das vidas que tenho, gosto das faces que posso exibir. Adoro caminhar passo a passo no mundo real, mas o prazer em voar nos sonhos é indescritível... Todos deveriam experimentar.

Eu vou continuar sendo uma Aline-real fria, mas a Aline-de-mentirinha sempre vai chorar quando uma Amber morrer ou quando o romance à la Bridget Jones acabar.

Eu sei viver... E você?

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

17:42 - Os Últimos Minutos



17 : 10 - O Sufoco

A vida deveria ser doce. Ele se lembrava da infância, quando sem muitas ambições sujava as mãos com o melado que a avó fazia e brincava de bonecos com os bolinhos de chuva. Tudo doce. A vida deveria ser doce, não? Mas os anos passam e trazem consigo o efeito destrutivo inexplicável (ou então incompreensível ao homem tão cheio de senso-comum). Agora tudo era tão amargo e ácido que o doce havia ficado nos rodapés das páginas mais antigas. E o sabor doce estava partindo e afundando no passado que agora parecia utopia. O telefone toca repentinamente e ele desperta de seu mísero segundo para devaneios.

- Alô? - Atendeu desanimado. Quem seria agora? Provavelmente o chefe novamente com mais cobranças e cobranças. Talvez um cliente insatisfeito e estressado sem papas na língua para lhe torrar os últimos vestígios de paciência. Podia ser Obama declarando a retirada das tropas. Podia ser Osama se entregando, tanto faz. A rotina era tão banal que a cor havia esvaecido.

- Oi querido! Não se esqueça do nosso jantar hoje, ok? Vou preparar torta de maçã para você. Lara até comprou um sapatinho novo para usar. Estamos feliz que irá jantar com a gente, principalmente para comemorar um dia tão es... - Ele a interrompeu com um grito abafado. Era ela. Alice. A mulher que há doze anos atrás ele havia escolhido para levar ao altar, para colocar uma aliança em seu dedo e beijar seus lábios. E somente com ela se deitou, somente a boca dela ele beijou... Mas no fundo olhava para as mulheres mais jovens - como Alice era há anos atrás, antes de dar a luz à Lara - e desejava se divertir um pouquinho além. Era só desejo. Covarde demais para isso, sem dúvidas. E além de covarde não tinha tempo. Tempo? Adam quase desconhecia essa palavra. Cada minuto era muito precioso, afinal, tinha milhares de relatórios para enviar e analisar.

- Chega, Alice. Eu já tenho problemas demais para resolver e mal tenho tempo para respirar! E ainda tenho que aguentar você me chateando e pressionando com isso... Mas que merda! Não pode jantar sem mim? - Irritadiço e grosseiro. Por um momento a mulher do outro lado da linha se perguntou "Por que eu fui me casar com ele?" mas então se lembrou. Antes de ser gerente de uma grande empresa e um homem de negócios ocupado ele foi um bom namorado. Não tinha muito dinheiro, mas era criativo. Aos finais de semana levava ela para passear em parques e lhe dava uma rosa branca e uma vermelha, recitava belas poesias e era deveras carinhoso. O que aconteceu com todo aquele sonho? O tempo, meus caros. O tempo que destruiu tudo.

- Eu posso, Adam. Mas será que você não entende que não posso continuar assim? Um marido ausente, um pai ausente... Do que me vale ter as melhores roupas, as jóias mais caras se já não tenho mais seu carinho? E você acha que basta para sua filha ter bonecas e mimos? Nós precisamos de você, não do que tem a oferecer. - Há mais de um ano aquele amargo estava preso em sua garganta, mas só hoje, no estopim de sua dor, ela conseguiu desabafar.

- Sinto muito, mas é ingratidão sua. Aposto que se eu não estivesse na posição que estou e não lhe desse todo esse luxo você reclamaria! Bah, vocês mulheres, viu! - Egoísta e cego. O tempo havia causado isso a ele. Era triste de se ver, oh céus. Olheiras terríveis, uns dez anos a mais do que realmente tinha estampados em sua face, alguns cabelos brancos... O que a vida havia lhe causado? Era quase um pacto amaldiçoado. A vida e a felicidade por dinheiro e perda de tempo. Vale a pena?

- Eu gostava mais de você quando tudo que tinha a me dar eram rosas... - E a voz de choro entregou a verdade. A tristeza transbordava de uma mulher deixada de lado por papeladas e reuniões. Muito comum, muito banal. Mas será o certo?

- Então pare de aceitar as jóias e o carro esporte. - O senhor da razão. Estava sempre certo, não havia nada e nem ninguém que fosse maior e mais sábio. E nem mais cego.

E Alice se ofendeu e desligou. Maldito! Por que a tratava tão mal? Será que sua mãe estava certa ao dizer que casamentos, cedo ou tarde, despencam na rotina? Depende. Mas sem dúvidas o de Alice e Adam estava muito danificado, porém a eterna romântica e apaixonada buscava ver solução e saída. Mas já não sabia se suas esperanças era mantidas pelo amor ao marido ou pelo bem-estar da filha.

17 : 22 - A Explosão

- Estressado, chefe? - O jovem estagiário parado na porta do escritório observava o outro que, sentado à frente do computador, puxava o próprio cabelo e bufava mal humorado.

- Muito. Lembre-se de nunca casar, garoto. - Um grunhido que fez com que o rapaz fizesse um grande esforço para ouvir e compreender. - Aliás, não tem mais o que fazer? Acabou o serviço e vai ficar como um abutre aqui na minha porta? Vá trabalhar. - E já era comum descontar seu desagrado consigo mesmo nos outros. Mas ele achava que era só estresse...

"Foda-se" pensou. Precisava sair para tomar um ar ou caso contrário ficarei louco. Ou já estava louco? Talvez, talvez. Despiu o paletó e deixou em cima da cadeira e caminhou apressado em direção ao elevador. Vazio. Assim como Adam. Chegando ao quinto andar (ele trabalhava no décimo terceiro e odiava, pois morria de medo de altura) uma moça loira adentrou. Curvas exuberantes, cabelo platinado e ondulado, lábios carnudos e um sorriso enigmático. Ela sorriu para ele e ele retribuiu. Sentiu-se tentado, como um cão tarado, a agarrar ela ali mesmo. Mas um avisinho em sua cabeça o lembrou de Alice. O jantar. Alice. Lara. Casamento. ACORDA!

Desceu e caminho até a porta de entrado sentindo uma raiva descomunal. Por quê? Não bastava o irritar com perguntinhas impertinentes no telefone e ainda habitava seus pensamentos e atrapalhava possíveis flertes? Medíocre. Saiu pela porta de vidro e esbarrou com um rapaz que estava no topo da escadaria. Um estagiário, peixe pequeno. E Adam já estava à ponto de explodir e... BOOOM.

- VOCÊ É LOUCO? - A mulher de cabelos negros que anteriormente estava ao lado do rapaz gritou. Ela tinha uma expressão aterrorizada e algumas lágrimas escorreram pelos seus olhos. - Alguém me ajuda! Socorro! Patrick! Patrick, você está bem? - E lá embaixo, no final do lance de escadas, estava o rapaz que trombou com Adam. Sangue. Mas ele parecia menos pior do que poderia estar.

Covarde. Ele teve coragem de empurrar o rapaz lá para baixo, mas não tinha coragem de ficar ali e assumir a culpa. Não era homem o suficiente. Nunca foi. Desceu pela rampa de deficientes apressados e correu em direção à...E correu. Correu desesperado sentindo um aperto no peito que nunca sentiu antes.


17: 42 - O Fim

Corria e quase tropeçava nos próprios pés. Sua cabeça latejava, suas idéias voavam e ele não fazia idéia do que fazer. Correu um pouco mais rápido e pode jurar que o farol estava fechado. A b r i u. O farol abriu. E aquela van estava atrasada para entregar a pilha de relatórios e não o viu. PLOFT.














Pi. Pi. Pi. Pi. Pi. Pi....











Ele não vai resistir...


Alguém já ligou para a família?


Ele perdeu muito sangue...











O doce de melado da vovó era bom. Os bolinhos de chuva eram deliciosos. Brinca de subir nas árvores e pintar o rosto no Dia das Bruxas era legal. Gostava de pular ondas nas praias. Gostava de fazer guerra com seus bonecos de chumbo.


O dia em que a conheceu foi o mais feliz, mas por que então se esqueceu? Lá, no fundo de sua memória submersa por dor e preocupações, havia uma lembrança perfeita e intacta daquele dia. Ela estava sentada na biblioteca, tinha os cabelos soltos e um tanto bagunçados, o óculos escorregava pelo nariz e de minuto em minuto ela arrumava. Parecia tão única lendo seu livro da capa verde... Parecia a única para ele. E mesmo covarde se aproximou. Demorou até conseguir dizer algo e feliz ficou ao perceber que ela ou era distraída demais ou o livro interessante demais.

O dia do primeiro beijo foi o mais mágico. Sentia o gosto adocicado de seus lábios, a maciez... O florescer de algo que ele tinha certeza que era amor. O primeiro passeio de mãos dadas. O primeiro filme abraçados no cinema. O primeiro jantar romântico. A primeira noite de amor. Tudo tão único... E lembranças doces soterradas por relatórios massantes. Mas naquele último filete de vida ele pode saborear pela última vez...

Por que o doce tem que perecer ao amargo? A vida era tão doce...

O dia em que Lara nasceu. Oh, minha nossa! Nunca imaginou que seria pai. Nunca esperou que um dia ficaria ansioso em um hospital para, depois de horas, ter em seus braços um ser pequenino e com o seu sangue... E lembrou de como a amou. Desde que estava na barriga e chutava, dando os primeiros sinais de vida, até o dia em que ela deu os primeiros passinhos... Até aprender a primeira palavra, até entrar para a escolinha... E hoje era uma pequena bailarina. Mas ele sempre faltava nas apresentações. E ele mal lembrava como era o brilho dos seus olhos quando dizia "papai".

E então... Quando foi o dia em que ele morreu? Será que foi mesmo às 17 : 42 de uma quinta feira qualquer? Ou foi o dia em que abandonou as coisas que amava pelas coisas que fazia... A morte de um homem nem sempre é quando seus órgãos param de funcionar. Mas sim quando seu espírito deixa de lutar... Quando sua alma se entrega sem lutar.

O mundo está cheio de Adams por aí. Só espero que a maioria não precise de uma morte física para ressucitar sua alma...

"Dizem que o que procuramos é um sentido para a vida. Penso que o que procuramos são experiências que nos façam sentir que estamos vivos."
Joseph Campbell

O Tempo

Traiçoeiro, não?

Um mês. Um mês se passou voando e eu nem senti... Houve coisas boas, coisas ruins, coisas doces, coisas amargas. Não importa o sabor ou a intensidade, tudo está guardado aqui. Talvez alguns detalhes esvaneçam e só fique o que realmente mereça ser relevado. Tanto faz. Estou sendo carregada pela correnteza agora.

A inspiração para escrever aqui desapareceu e nem mandou lembranças, oh, o que faço agora? Bom, agora só posso me ausentar. Tenho que continuar com meu projeto (que também empacou) e a criatividade continua oculta... É difícil, sabe?

Bom, a frigideira que aqui vos fala vai se retirar. Talvez a criatividade e a inspiração estavam por aí, em algum lugar. Vou achá-las.

Lih, Eddie e os lobos mandam lembranças! (ok, acho que nunca comentei do Eddie e dos Lobos aqui, mas whatever. Quando terminar tudo eu comento... LOL, vai demorar)

:*

sábado, 8 de novembro de 2008

Gotta Be Somebody

This time, I wonder what it feel's like to find the one in this life
The one we all dream of, but dreams just aren't enough
So I'll be waiting for the real thing
I'll know it by the feeling
The moment when we're meeting
Will play out like a scene, straight off the silver screen
So I'll be holding my breath, right up to the end,
Until that moment when, I find the one that I'll spend forever with

'Cause nobody wants to be the last one there
'Cause everyone wants to feel like someone cares
Someone to love with my life in their hands
There's gotta be somebody for me like that
'Cause nobody wants to go it on their own
Everyone wants to know their not alone
Somebody else that feels the same somewhere
There's gotta be somebody for me out there

Tonight, out on the street out in the moonlight
And damnit this feels to right
It's just like déjà vu me standing here with you
So I'll be holdin my breath
Could this be the end
Is it that moment when I find the one that I'll spend forever with

'Cause nobody wants to be the last one there
'Cause everyone wants to feel like someone cares
Someone to love with my life in their hands
There's gotta be somebody for me like that
'Cause nobody wants to go it on their own
And everyone wants to know their not alone
There's somebody else that feels the same somewhere
There's gotta be somebody for me out there

You can't give up, when your looking for that diamond in the rough
Because you never know when it shows up
Make sure your holding on, 'cause it could be the one, the one your waiting on

'Cause nobody want's to be the last one there
'Cause everyone want's to feel like someone cares
Someone to love with my life in their hands
There's gotta be somebody for me

'Cause nobody wants to go it on their own
And everyone wants to know their not alone
There's somebody else that feels the same somewhere
There's gotta be somebody for me out there

'Cause nobody wants to be the last one there
'Cause everyone wants to feel like someone cares
There's somebody else that feels the same somewhere
There's gotta be somebody for me out there
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Eu não resisti em postar isso...Pois é quase como me sinto.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

E que tal agora?

Shadows fill an empty heart
As love is fading,
From all the things that we are
But are not saying.
Can we see beyond the scars
And make it to the dawn?

Ela sentou-se no braço do sofá azul-marinho e encolheu os ombros. Respirou fundo pela décima vez e tentou acalmar aquela angústia em seu peito que fazia um gosto amargo escorrer pela garganta. Não. Não passou, não foi embora como das outras vezes não foi. A dor incessável continuava ardendo e latejando seu peito aberto e o ato de respirar fundo se tornava a cada instante mais árduo e mais distante de solucionar alguma coisa. Já não havia mais um único vestígio de força de vontade naquela alma perturbada e então finalmente ela permitiu que as lágrimas corressem livremente por seu rosto pálido.

Eu não aguento mais...Ela sussurou para si mesma. E toda aquela tempestade que há tempos era contida no pequeno frasco se libertou e ela sentiu a onda selvagem de medo consumir cada partícula de seu corpo frágil. O que seria agora? O fim? As respostas eram tão vagas e incertas que ela preferiu contemplar o vazio e o distorcido de sua mente perturbada ao invés de continuar sua busca por respostas que fizessem algum sentido.

Change the colors of the sky.
And open up to
The ways you made me feel alive,
The ways I loved you.
For all the things that never died,
To make it through the night,
Love will find you.

E ela sentiu, finalmente, o que lhe faltava. Não, ela não viu ou se lembrou. Ela SENTIU. Sentiu com todas as suas forças o que era aquele vão em sua vida. Levantou-se desesperada e correu em direção ao corredor, onde adentrou na primeira porta a esquerda. Avançou até um armário grande e largo e abriu a porta, vasculhou nas gavetas debaixo e finalmente encontrou o que buscava. Uma fotografia em um porta-retratos verde com o vidro quebrado e uma carta enrolada com uma fita vermelha.

Seus olhos tornaram a despejar lágrimas enquanto o olhar atento acompanhava as palavras rapidamente. Vez ou outra olhava de relance para a foto adormecida no porta-retratos e mais lágrimas vinham à tona. Lá estava a prova viva do que ela sentia. Era uma saudade mista de nostalgia que lhe sufocava a cada segundo, mas ela ainda não sabia onde estava o caminho a qual seguir.

Leu e releu a carta tantas vezes que o papel um tanto amassado já estava úmidecido por conta de tantas lágrimas que lhe penetraram. Largou a carta relutante e agarrou o porta-retratos, trazendo-o junto ao peito e abraçando a imagem como se desejasse que aquilo se torna-se material e tocável, ou melhor, aquele. Não, não foi como a mágica dos filmes, nada era real. Não mais.

E após permitir se perder em devaneios abraçando aquele pedaço de felicidade ela olhou pela última vez e pode ver claramente. Na foto estava ela, a própria, com os cabelos mais compridos e um sorriso radiante. Ao seu lado estava aquele. Ele. O único. E ele era a razão do sorriso radiante. Ambos estavam tão felizes que a foto quase podia se mover e lembrá-la ainda mais claramente de como fora feliz, de como não havia vazio anteriormente. Mas agora só restava a dor...

What about now?
What about today?
What if you're making me all that I was meant to be?
What if our love never went away?
What if it's lost behind words we could never find?
Baby, before it's too late,
What about now?

E do outro lado da cidade um outro alguém também sentia aquele vazio trucidar o seus últimos sentidos da vida. A vontade de agarrar o telefone e fazer uma única ligação que mudaria tudo era imensa, porém o orgulho era exorbitante. Não, ele não ia permitir que seu orgulho fosse sacrificado novamente. Sentia-se obrigado a preservar o pouco de amor próprio que restava...Mas mal notava que o amor próprio era estúpidamente insignificante se comparado ao amor que sentia por ela.

Engraçado. Olhava para a mesma foto, só o porta-retratos era diferente, mas contemplava os sorrisos repletos de felicidade da mesma forma que ela. E a saudade era tão igualmente intensa que o vento pode levá-las através da pequena distância e fazer com que ambos sentissem aquilo.

The sun is breaking in your eyes
To start a new day.
This broken heart can still survive
With a touch of your grace.
Shadows fade into the light.
I am by your side,
Where love will find you.

E ele nocauteou o orgulho com a sua saudade e o seu amor e se levantou como um verdadeiro guerreiro sentindo seu coração gritar pela vida. Em poucos segundos alcançou o telefone e apertou os números que bem conhecia. Um toque, dois toques e finalmente uma voz. Seus olhos se encheram de lágrimas - um misto de alegria e ansiedade - e percebeu que o encontro da saudade fazia jus ao que sentia.

- Achei que nunca fosse ligar... - Ela sussurou tentando disfarçar a voz chorosa. Mas ambos se conheciam bem demais para serem tapeados pelas enganações de "está tudo bem".

- Eu também achei. - Ele disse transbordando sinceridade. - Mas eu não consegui. Eu derrubei o meu orgulho...Eu o fiz, de novo, por você.

- Por nós. - Ela disse decidida, mas ainda presa à voz chorosa.

- Eu te amo. Sempre amei, sempre vou amar. - E finalmente sentiu que o vazio estava sendo preenchido. Ambos sentiram ao mesmo tempo e foi tão forte que a voz desapareceu por longos segundos.

- E eu te digo o mesmo. Um amor tão forte que mal posso explicar. Um amor que me manteve viva, que manteve uma pequena brasa...E agora eu sinto as chamas renascendo das cinzas. Você - E deu uma risadinha tímida - sempre me trás vida. Sempre. Como posso ignorar isso? Você é a própria e única vida para mim.

Now that we’re here,
Now that we've come this far,
Just hold on.
There is nothing to fear,
For I am right beside you.
For all my life,
I am yours.

As mãos formavam uma única, assim como suas almas. Os dedos entrelaçados e os sorrisos repletos de verdadeira felicidade enfeitavam os lábios de ambos. E assim como naquele retrato eles estavam unidos novamente e nada poderia ser comparado ao preenchimento do vazio atordoante que antes os calava. Juntos por um tempo que nem a eternidade ousaria se intrometer, que nem mesmo o pior dos problemas poderia quebrar e nem mesmo eles próprios poderiam compreender. É apenas isso. O amor simplesmente é e não pode ser explicado.

E eles se amavam e se completavam e nada podia mudar isso. Nada mais justo do que estarem ali, juntos, revivendo e ressucitando o sorriso sublime em suas vidas. Era tão simples, mas tão intenso...Era a vida. Era o amor. Era a razão.
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Não, não estou apaixonada ou amando alguém em especial. Mas eu sempre sou apaixonada e amo as coisas pelo simples fato de estar viva. É que hoje, em meio à tanta confusão e problemas, eu senti necessidade de escrever algo que transmitisse amor e esperança. Espero que isso sirva para algumas pessoas que eu amo demais e que elas percebam que a vida não acaba agora, muito menos o amor. E isso foi mais um recado à um amigo do que qualquer outra coisa. Bem, quando ele ler saberá que é pra ele, eu espero. Já que o próprio me contou uma história parecida...Apenas acrescentei a letra de What About Now e minhas inspirações.

V.G - Por favor...Talvez se tiver um tempo e ler isso, se parar de ignorar tudo que te digo, você possa perceber o caminho errado que segue e encontre alguma velha fotografia que lhe traga de volta à vida. Não deixe que a dor e o vazio sejam mais fortes do que você. Eu te amo, meu anjo da guarda ao avesso. E por favor...Renasça das cinzas mais uma vez. E eu tenho tentado ser forte por mim e tomar emprestado as forças dele que ficaram para tentar te ajudar...Então não apague a luz totalmente e traga de volta minha metade, ok?

domingo, 5 de outubro de 2008

O Desconhecido Conhecido

O relógio digital muito simples parou de funcionar de repente. Ao invés dos números desaparecerem de sua tela indicando que a bateria havia se esgotado, não, ele simplesmente congelou no tempo. Marcava dez e quinze da noite. Ela ainda não fazia a mínima idéia do por que de seu relógio ter feito aquilo, mas depois de um tempo com toda sua sutileza - para não dizer excesso de distração nos pequenos e fundamentais detalhes - ela ia perceber. Estava frio, uma brisa gélida e a pouco começara a garoar. Faz sentido, não? São Paulo, a terra da garoa.

Ele se aproximou silencioso, ela nem ao menos o notou, sentou-se ao seu lado e arranhou a própria garganta na intenção de chamar a atenção dela. Ela, absorta em pensamentos aleatórios, continuou por não notá-la. Descontente com a leviana falta de atenção de sua nova companheira, ele virou seu rosto na direção dela e disse "Frio, não?" e foi então que ela percebeu que já não estava mais só. Acostumada com a sua maior companheira, a solidão, raramente notava quando alguém lhe dirigia a palavra, normalmente eram coisas simples, frases prontas e ditas em lugares comuns, como "Com licença" ou "Obrigado".

"Sim, mas eu gosto assim" ela respondeu com um meio sorriso tímido nos lábios. Talvez qualquer outra mulher se sentiria intimidada em tal situação, tarde da noite, sozinha no ponto de ônibus com um completo desconhecido ou então uma sortuda, sozinha ao lado de um desconhecido muito bonito. Ela sequer reparou nos seus traços fortes e marcantes, traços que lembravam um estrangeiro ou alguém que jamais viu - o que é difícil, pois se encontra pessoas de traços semelhantes em qualquer lugar - e muito menos deu atenção ao belo par de olhos azuis que lhe fitavam com curiosidade. Ele era um rapaz deveras bonito e agora sorria muito simpático, mostrando o sorriso perfeitamente branco e charmoso. Ela era uma mulher solitária, da maquiagem desbotando e uma roupa preta que lhe apagava qualquer vestígio de vida ou lembrança.

- Interessante. Gosta do frio e do escuro por que lhe reflete o que há por dentro? - Ousadia. Ele adorava esse recurso. Toda a vida fora uma pessoa ousada, dessa vez não seria muito diferente. Ele estava ali por que ela estava, e não estaria se ela não estivesse. Ele esperara tanto tempo por aquele momento e não queria que acabasse de um jeito funesto, mas sim esmero.

- Não... Por que assim eu posso sentir o vento gelado tocando a minha pele. Eu gosto dessa sensação... Isso me faz bem. - Ela sentiu-se incomodada com a ousadia do rapaz, mas já era de se esperar. Era uma garota muito introvertida, tímida e reservada, quando alguém tentava invadir seu pequeno espaço cercado por muros de aço, bem, ela não sabia como agir, mas acreditava que sua defesa estivesse forte o suficiente para ninguém ultrapassá-la.

- Hm entendo. E por que dessa maquiagem tão obscura? Por que essas roupas? Escondendo sua alegria? Privando-se das cores? Eu não compreendo... É uma jovem bonita, deveria valorizar isso. - E ele ajeitou a gola da camisa branca. Ela não havia reparado, até então, em suas vestimentas. Uma calça social risca de giz, uma camisa branca e um casaco comprido cinza escuro. Não parecia um baladeiro voltando para casa, mas sim um mero homem de negócios. Bem, talvez ela estivesse certa em relação a homem de negócios, mas não tão certa. Afinal, existem vários tipos de negócios.

- Eu não entendo por que as pessoas gostam tanto de conversar enquanto esperam ônibus. São desconhecidos...Ninguém sabe da vida do outro. Então por que cada um não aceita seu silêncio e o mistério do outro e simplesmente não pega seu mp3 e fica ouvindo suas músicas favoritas? Eu não gosto de conversar com estranhos. - Ela não é de falar muito, nem mesmo com aqueles que as vezes considera "amigo" ou algo parecido, porém quando é necessário - ou julga ser necessário - ela abre uma exceção. E esses tipos de exceções são raras! Ele começara a acreditar que estava conseguindo escalar um pedacinho do muro em volta dela.

- O que te faz acreditar nisso? Eu sei, por exemplo, que você é uma garota triste e tímida, talvez um pouco ou muito solitária, gosta de usar roupas escuras e maquiagem pesada, também deve gostar de um som mais pesado. Acertei? - Ele terminou sua indagação com um sorriso indescritível nos lábios. Talvez fosse um misto de satisfação ou amabilidade, mas nem ela soube dizer o que era aquele sorriso, mas se sentiu estranhamente familiarizada com ele.

- Parabéns. Você concluiu o mais óbvio de tudo, o que quer agora? Um prêmio? Olha cara, se por acaso você é um assassino maluco ou um tarado... Tudo bem vá em frente. Pode me matar me faça esse favor. - Agora havia um traço de incômodo em sua voz e suas expressões. Ela detestava quando alguém tentava se aproximar desse jeito, principalmente quando chegava tentando desvendar aquilo que, em tanto tempo, ela lutou para cobrir e proteger. Ela não queria que mais ninguém se aproximasse o suficiente para apunhalá-la novamente.

- Hmm... Agora sei de mais uma coisa. Além de tudo o que disse antes, você também é infeliz... E não quer mais viver. E pode ficar tranqüila, não sou um tarado, muito menos um assassino. Eu acho que você está me subestimando. Sou Sabinus*, prazer. - E ele lhe estendeu a mão. Atualmente ninguém faz isso, ou quando faz é alguém realmente idoso e cortês, mas um homem tão jovem como ele não deveria tê-lo feito.

- Pare de agir como se me conhecesse. A gente não se conhece. E oi, Sabinus. Nome estranho o seu... Não é daqui, é? Estranho, seu português é bom, nem parece estrangeiro. Ah, eu sou Helena. - Ao ouvir ele se apresentar sentiu um calafrio, um arrepio que lhe percorreu a espinha e eriçou os pêlos de sua nuca. Ela não entendeu o gesto dele - mas deveria ter compreendido o que aquilo significava - mas mesmo assim lhe estendeu a mão também, porém ficou surpresa quando o viu beijar as costas de sua mão gelada e pálida. - Cara, você consegue ser mais esquisito do que eu. - E isso para ela era um record. Sentia-se no mundo e na vida como Bob Harris (Bill Murray) em Lost in Translation, um filme de Sofia Coppola.

- Helena... Significa tocha. Indica uma pessoa que está sempre olhando dentro de si buscando sua verdadeira personalidade. - E então ele sorriu. Um sorriso atípico era como se o raiar do sol estivesse naquele sorriso, ela até mesmo pode sentir a sensação a vista sendo ofuscada pelos raios intensos. - É meu nome é estranho mesmo. Mas não se deixe levar por isso, é apenas um detalhe. - E ele fitou discretamente a mão dela e parou de sorrir. Agora estava sério, mas era incrível como ficava belo até mesmo sério, um ar enigmático envolvia-o. - Diga-me, Helena. Por que está aqui? – Ela ficou tão surpresa com a pergunta que até hesitou responder por alguns momentos, era tão óbvio o motivo! Por que então ele, que se julgava saber tanto, não percebia? Por educação ela acabaria por responder o que acreditava ser a verdade.

- É só um nome, e um nome não diz nada sobre ninguém. É apenas uma coisa que minha mãe escolheu assim não precisaria me chamar de qualquer coisa, mas não que isso faça diferença agora. - Encolheu os ombros tentando dar um ar de desdém, quisera ela voltar e não dizer aquilo, pois sabia que logo ele usaria o que dissera como argumento de que estava revelando o enigma “Helena”. – Ué, eu estou aqui pelo mesmo motivo que você. Estou esperando o ônibus para... – E pensou. Por que estava esperando aquele ônibus? Não tinha mais casa para voltar, não tinha para onde ir. Só passaria a segunda noite vagando pelas ruas não tão seguras da cidade e buscando algumas respostas para perguntas que nem ela sabia quais eram. – Bem, ônibus para ir pra casa. – Ela se julgou tão esperta em lhe esconder um fato! Achou que era seu primeiro triunfo, achou que agora quem estava sob comando era ela. Mas pouco sabia da verdade, ainda estava cega por seus medos.

- Não é só um nome. Mesmo que sua mãe não tenha o escolhido propositalmente, bem, ele tem tudo a ver com você. Talvez ele seja o culpado por tudo isso. – E havia uma sinceridade tão forte em suas palavras e seu tom de voz que ela não conseguiu desacreditar, até tentou, mas falhou. – E por que não faz diferença agora? Sua mãe deve gostar do seu nome, afinal, ela o escolheu para você. – Ele resolveu tentar fazer com que ela falasse um pouco mais sobre isso, mesmo que já soubesse grande parte das respostas. – Mas o meu motivo não é voltar para casa, Helena. O meu motivo é outro. – E deixou que o silêncio cobrisse tudo com mistério, queria induzir a curiosidade dela e testar até onde poderia chegar. E ele não conseguiu conter o riso ao notar o ar de triunfo dela, pobrezinha! Julgava-se tão esperta perante a ele, mas mal sabia que ele podia ver através de seus olhos turmalina e tristes.

- Tanto faz... Não vou culpar os meus problemas a um nome. Nome é só nome. – Ela não queria dar o braço a torcer, não queria parecer burra diante de um homem como ele, um homem que... Bem, ela não sabia direito o que, mas ele era diferente. – Não faz diferença por que minha mãe está morta. – Ela falou em tom amargo. Suas expressões mudaram e ela respirou fundo tentando parecer normal de novo. Normal? Ah, não. Normal e Helena não eram duas coisas que combinassem em uma única frase, talvez só se fosse “Helena não é normal”. – Então qual é o seu motivo? Ficar enchendo meu saco e bisbilhotando o que não tem nada a ver com você? Será que o seu passatempo é ficar tentando saber da vida dos outros? Cara se quer bisbilhotar a vida alheia vá para o Orkut, aquela merda só serve para isso mesmo. – E agora havia o rancor. A ferida estava sangrando e ela destilava seu veneno armazenado em seu ódio, seus medos e coisas que nem sabia o nome.

- Não foi sua culpa. Ela se foi por que tinha que ir. E não foi por que você causou algum desastre. Todo mundo tem sua hora, Helena. Assim como a sua vai chegar um dia, mas não creio que seja muito em breve. – Ele não era de todo muito mal ou um jogador completamente manipulador, também era – em esporádicas vezes – sincero e até mesmo confortador. – O meu motivo é você. Eu estou aqui por sua causa. E esperei muito tempo por essa conversa... Esperei muito tempo para poder me desculpar com você. – E ele cansou de adiar o inadiável. Sabia que tinha outro trabalho a fazer e era longe dali – não que distância fosse um empecilho para alguém como ele, longe disso – e também queria ajudá-la logo, pois a dor dela era tão gritante que lhe causava certo desconforto.

- Cara... Chega! Você tá começando a me irritar. Que filosofia barata de caminhoneiro é essa!? Olha, se você pensa que vou para um motel com você só por que está fingindo me entender ou ser simpático, foda-se você! Apenas me deixe em paz... – Ela levantou-se e deu um passo para trás. Sentia uma vontade imensa de correr para longe dali e ouvir suas músicas favoritas, assim talvez se esquecesse das lembranças que lhe voltaram a assolar a mente, mas não conseguia. Suas pernas não obedeciam a ordem de correr e o máximo que conseguiu foi um mísero passinho para trás.

- Não é filosofia barata. Agora me escute, por favor. Eu vejo a sua dor, eu sinto a sua dor. Eu causei a sua dor. E eu não costumo fazer esse tipo de coisa, mas você foi tão diferente dos outros... Eu faço o que tenho que fazer e sei que é cruel, mas às vezes sinto-me culpado por ver as conseqüências que isso causa nas outras pessoas. – Agora ela já não entendia mais nada. Que tipo de coisas ele estava falando? Será que além de esquisito ele estava sob efeito de drogas? Ela estava sentindo como se o chão sólido debaixo de seus pés desaparecesse – e aquela era uma situação muito comum para ela – e não podia fazer nada para se defender. Seus muros caíram por terra e agora era tão vulnerável quanto um bebê.

– Você está sozinha. Você não pode voltar para casa por que não sente mais que aquilo é um lar. Você não agüenta a solidão, o abandono... Você não consegue entrar lá e ver todos aqueles quadros, você não consegue aceitar que a morte levou a tantos que você um dia se importou, mas deixou você aqui... Não lhe deu o direito de morrer, de descansar em paz, lhe deixou para os abutres comer pedaço por pedaço do que resta da carcaça, já que por dentro se sente vazia. – E ela sentiu medo. Seus muros não só haviam caído, mas ele havia entrado e desvendado seus sentimentos mais profundos. Como é que um estranho podia fazer aquilo? Como ele sabia tanto sobre ela? E por mais uma vez desejou morrer... Talvez assim a dor latejante cessasse e ela pudesse descansar em paz.

- Eu não posso te levar agora por que você tem uma missão, um destino. Um dia eu voltarei e nossa conversa será diferente, mas por hoje isso é tudo. Você tem que enxergar que existem muitas outras pessoas no mundo, embora nem todas vão lhe estender a mão e beijá-la, algumas poucas o farão. Então trate de aproveitar a chance de ter essas pessoas em sua vida. Não se feche mais nessa concha, por que só irá sofrer. Não deseje a morte, por que agora não é a sua hora. No livro seu nome não está escrito nas páginas desse presente, nem mesmo em um futuro breve, mas sim distante. Então não sinta mais pena de si mesma e comece a olhar mais atentamente dentro de si, por que uma hora irá encontrar a força que precisa. – A cada segundo tudo ficava ainda mais estranho. O olhar dele agora tinha um brilho quase sobrenatural e ela sentia-se tão aberta e tão restaurada que não conseguia compreender. Era como se aquele fardo pesaroso e doloroso sobre seus ombros estivesse, aos poucos, desaparecendo.

- Que...Quem é você? – Ela estava tão curiosa, mas com tanto medo que mal conseguia falar sem gaguejar. Ela começou a olhar ao seu redor buscando qualquer outra coisa estranha que indicasse que aquilo era um sonho ou pesadelo, mas as gotículas da garoa ainda provavam que aquilo era tão real quanto podia ser.

- Eu sou um desconhecido conhecido. Veremos-nos daqui muitos anos, Helena. E vá para casa, para sua casa de verdade. Para de fugir... Para de procurar as respostas nos lugares errados. Eu sei que tem alguém te esperando lá e essa pessoa está lhe esperando com a mão estendida. Não jogue essa oportunidade fora, agora vá, seu ônibus chegará em breve. – Ele sorriu amigavelmente e revelou a ela um olhar terno e quase carinhoso. Ela pode então ouvir o barulho do ônibus se aproximando e virou o rosto depressa para ver se era mesmo o seu ônibus, mas quando voltou o olhar para o desconhecido Sabinus notou que ele havia simplesmente desaparecido. Não havia onde se esconder ali, não em um lugar que ela não pudesse ver... Aquilo era mais um detalhe para tornar aquela noite inesquecível e estranha, mas ao mesmo tempo reveladora. Respirou fundo, ajeitou o sobretudo e deu sinal para o ônibus.

Sentada em um assento da última fileira de bancos ela olhou para a janela. E então ela o viu novamente. Ele a encarava de modo misterioso, mas também incentivador. Era quase como se sussurrasse em seu ouvido – e ela jurou que pode ouvir – Vá em frente, não vá desistir agora. E então olhou para o relógio. O seu relógio digital no pulso esquerdo. E para sua surpresa e espanto ainda eram apenas dez e vinte e um. Haviam se passado seis minutos desde que seu relógio resolvera congelar, então... O que foi aquilo? Ela jamais soube dizer ou compreender, mas aquilo vez com que ela conseguisse enxergar coisas que não via antes, pois seus medos e dores não permitiam. Voltou para casa após tanto dia dormindo em casa de amigos ou conhecidos, voltou para casa após deixar sua maior dor isolada dentro de um apartamento com quadros bonitos.

- Helena! Você voltou! Ah, minha querida... Fiquei tão preocupada! A polícia disse que você era maior de idade e se quisesse ir embora, bem, não poderiam fazer nada... Mas você voltou! Fiquei tão preocupada! – A senhora de cabelos grisalhos abraçou a garota com tanta força e carinho que até parecia estar surpresa em vê-la viva e bem. – Eu sei que é difícil, minha querida. Mas nós iremos conseguir... Venha comigo, tem alguém aqui que quer lhe ver. – E a senhora agarrou a mão gelada da jovem e começou a conduzi-la para o interior do apartamento antigo, que era consideravelmente grande. Ao chegarem a um dos quartos de hóspedes ela sentiu seu corpo congelar. Aquela visão foi tão chocante quando os minutos congelados que vivera com aquele desconhecido.

- Pai!? – Ela falou surpresa. Não o via a tantos anos que parecia uma aparição ou algo parecido. Ela não sabia por que ele havia partido, mas agora precisava tanto de uma mão estendida para se levantar que deixaria as explicações para depois.

- Eu voltei minha menina. Voltei por que sei que agora é um momento difícil para todos nós. Eu voltei por que um amigo me disse que era hora de voltar. – E ela correu para os braços do pai e os dois se abraçaram. Um abraço tão completo, um abraço que não era dado a cerca de sete anos. Helena achava que o pai estava morto, pois não lhe mandava cartas há meses e havia desaparecido totalmente, ela jurou que não ia perdoá-lo por abandoná-la em momentos tão difíceis, mas via que ele estava tão abatido – ou mais – do que ela mesma.

- Um amigo? – Disse a vovó grisalha e sorridente.

- Sim, mãe. Um desconhecido conhecido. – E Helena e o pai se encararam e sorriram. Como aquilo era possível? Como? Ela não sabia nem por onde começar a tentar entender tudo aquilo, mas de uma coisa ela sabia... Um desconhecido conhecido fazia grandes mudanças nas vidas das pessoas, pois naquele dia, naquele tempo congelado, ele havia devolvido à ela uma coisa que nem se lembrava de como era...A esperança.
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Escrevi esse texto por que sei que muita gente deseja a morte, muita gente se sente tão desamparado e solitário que não consegue enxergar as pessoas ao seu redor com as mãos estendidas e querendo ajudar. Talvez você esteja como Helena e precise de uma mão estendida para se levantar...Então não espere seu relógio parar ou um desconhecido conhecido, faça isso por si mesmo.

* Sanubis: Anagrama para Anúbis (ver mitologia egípcia)

sábado, 4 de outubro de 2008

A Garrafa Vazia

Esparramada no sofá. Seu olhar tristonho e misterioso fixo no scarpin vermelho novíssimo e no vestido puído. Parecia cansaça e tão gasta quanto o vestido, mas havia algo nela de tão diferente que não era e ainda não é possível descrever. Então deixo aqui essa descrição falha e incompleta, pois ela, a mulher esparramada, é indescritível. Seu mistério é preenchido por dor. Uma dor que não se pode medir ou compreender, uma dor que muitos passam e não vêem. Quem é ela, afinal? É a mulher esparramada no sofá, a mulher do olhar triste.

O telefone tocou, uma campainha tão irritante e demorada, mas não a afetou. Ela continuou estagnada como se fosse uma bela, porém deprimente, fígura de um quadro. O telefono se cansou e parou de perturbar seu momento de reflexão. Ops, reflexão? Então ela não estava apenas jogada à devaneios, ela estava refletindo. E o que havia em sua mente? Shiu, faça silêncio e concentre-se, vamos ler essa mente...Talvez um de seus mistérios caia por terra. Talvez.

Ele se foi...Ouviu isso? Também acho que ouvi. Do que ela está falando? Vamos analisar melhor o cenário, em algum lugar deve haver uma resposta. Observe ali, na estante, onde há aquela televisão bonita de plasma, onde há aquelas esculturas esquisistas e onde...Veja! Aquilo pode ser uma pista...Uma foto. E é a mulher triste, mas não está sozinha. Quem será aquele ao lado dela? Será que é ele? Rápido, veja! Ela está se levantando, mas o que há com ela? Está tão...Não sei explicar, você sabe? Cambaleou para um lado, para o outro e foi se apoiando nos móveis até chegar na mesa da sala. Pegou o celular, escorregou os dedos e depois levou o mesmo até a orelha esquerda, acho que está ligando para alguém.

- Alô? - Disse ela. Agora não havia mistério em desvender seus sentimentos, emoções ou expressões. Era óbvio notar seu imenso esforço em não transparecer sua tristeza ou falta de força, era óbvio que queria erguer seu muro intransponível e se exibir forte e inabalável. Mas eu sei, e creio que você sabe, ela não era assim...Ela era triste.

- Oi... - Uma voz masculina disse do outro lado. Era uma voz arrastada, rouca, pesada, uma voz bonita. Se não fosse aparentemente tão triste seria bastante sensual. Creio que nenhum dos dois sabia o que falar, mas não tinham coragem de desligar, pois permaneceram em silêncio absoluto por alguns minutos. Eu não me cansei em esperar, pois estava de fato curiosa para saber o que ia acontecer finalmente, mas você se cansou? Então se prepare, por que acho que nossa espera valeu a pena.

- Por quê? - Agora já não era mais possível manter a pose de "durona". As lágrimas eram tão pesadas que corriam por seu rosto, buscando liberdade e algo sólido para se chocar e morrer. As lágrimas podem partir, mas elas não levam consigo a nossa dor...E ela chorou, chorou feito a mulher triste que era, mas a sua tristeza não diminuiu.

- Eu...Entenda...As pessoas tem que seguir sua vida pelo melhor caminho...E esse foi o meu melhor caminho. - Egoísmo puro, sentiu isso? Eu posso sentir o cheiro estranho do egoísmo no ar. Não importa que eles estão ali, nós aqui, não importa que é apenas uma voz no telefone. Eu posso sentir o egoísmo...E também sei que ele sabe que está fazendo ela sofrer, ele é a causa da mulher ser triste.

- O seu melhor caminho, então, é longe de mim? É me ver chorando, implorando, vestida para você, maquiada para você...Com os lábios carmin implorando por um último beijo, um beijo que nem ao mesmo consegui sentir... - E os lábios estavam manchados agora. Talvez restasse um pouco do vestígio do carmin, mas eram manchados, até parecia sangue. Seus cabelos negros estavam úmidos, sua pele alva estava fria e suas pernas e mãos trêmulas. O rosto desconcertado pelo choro, o nariz começando a entupir e a voz a falhar. Ela estava transbordando e não havia lugar para se apoiar. Você consegue ver isso e ficar impassível? Consegue ver um coração partido e não sentir a mínima vontade de consertá-lo ou talvez de, pelo menos, tentar? Bem, eu não consigo.

- Olha...Acho...Bem, eu acho que, no fundo...Nossos caminhos nunca foram o mesmo. Acho que a gente só queria que fossem...Mas agora eu encontrei o meu caminho, agora eu sei o que quero. Sinto muito... - Nunca, ouça bem esse conselho, nunca diga para alguém que você sabe que te ama e te quer bem, alguém que daria a vida por você, que não faz mais parte de sua vida. Sei que ele não disse isso claramente, mas deixou ela naquele estado lamentável e disse tudo isso. Seria até mais bonito se ele desligasse e deixasse ela livre, para que em paz ela voltasse a fitar os sapatos e o vestido.

- Eu só tenho mais uma coisa a dizer...Não importa qual é o seu caminho, mas o meu...O meu me leva até você. Eu posso ter sido deixada para trás, mas eu ainda me vejo ao seu lado, afagando seus cabelos e desejando seu abraço...Talvez isso seja o amor. Talvez seja essa vontade louca de te ter aqui comigo, esquecendo o quanto me magoou, quantas vezes te perdoei...Por que o que sinto é inexplicável, porém supera tudo isso. - Uma explosão de sinceridade, não é? Acho que as mulhe...Ou melhor, acho que os apaixonados são bobos. Eles não percebem o quanto se machucam para salvar o outro, porém nem sempre o outro está disposto a fazer o mesmo, mas quer saber? Um apaixonado de verdade não liga para isso, por que ele não ama e não cuida esperando retribuição, ele o faz por que gosta, faz por que lhe é necessário. E ela o perdoou...Só não sei ainda do que.

- Você deveria ter percebido antes! Quando você descobriu as coisas que fiz, achei que não fosse me perdoar, em partes fiquei contente, pois assim não caberia a mim terminar ou ter que dar satisfações do que pretendia fazer...Mas você...Eu não entendo você! Já tive outras em minha vida e isso sempre funcionou, mas por que com você não? - Provavelmente o canalha do telefone era um adúltero...Ou talvez um transformista não-assumido, um pedófilo insano ou um assassino serial...Oh, perdão. Não se deixe levar por meus intensos devaneios, continue seguindo sua própria linha de raciocínio. Se tiver alguma conclusão, por favor, me diga, talvez juntos podemos desvender essa história melhor.

- Quer mesmo saber por que não funcionou comigo? Talvez por que eu seja burra, mas eu realmente acredito que...Bem, elas não te amavam. E quem não ama o suficiente não é capaz de perdoar. Mas eu te amo...E te perdoei daquela vez, daquelas situações e seria capaz de ter perdoar quantas vezes fosse preciso...Contanto que esteja ao meu lado e esperando que eu te perdoe, eu o faria. Mas... - E ela mesma ficou comovida com o que disse. Sentiu aquelas palavras saírem gélidas de sua garganta e percebeu que agora compreendia. Agora entendia perfeitamente o por que de suas amigas parecerem tão idiotas quando estavam apaixonadas, agora ela fazia parte desse mundo. Mas o mundo não é fácil, nunca foi, não é? E acho que nem todos são afortunados nos aspectos amorosos...Eu, por exemplo, não sou muito afortunada (e sei que a culpa é minha), mas e você?

- Eu não acredito no amor. As pessoas não ama umas as outras, elas amam o que as outras podem lhe oferecer. Não tô falando de dinheiro, comodidade ou afins, claro, isso também, mas...Enquanto a outra pessoa lhe for útil, bem, ai tudo bem. Mas depois que tudo cansa...Acredito que um dos dois tem o direito de partir. E eu cansei, por isso parti. E mesmo que achasse, apenas achasse, que sentia algo mais...Eu não ficaria. Por que o amor é o consolo dos tolos e dos fracos, aqueles que não tem força o suficiente e precisam se apoiar em alguém. - Odeio admitir, mas em certo ponto eu concordo com o vilão da história. Nem todas as pessoas fazem isso, mas algumas utilizam do "amor" para se apoiar quando perdem esperanças ou qualquer coisa parecida. Eu não sei o que é mais cruel nisso tudo...Ele agir dessa forma com ela ou ela acreditar tanto em um cara como ele. Pois veja você mesmo! Olhe bem para ela...Ela é daquele tipo de mulher que os caras param na rua só para contemplar a beleza. Veja, quantas curvas impecáveis, aquele cabelo - que mesmo mal cuidado é bonito - e aqueles lábios - mesmo sem o carmin são convidativos - ela é uma mulher muito bonita, acho que até acima da média. Mas mulheres assim, ah, elas só são atraídas pelos caras errados, né? Eu estou começando a acreditar que o errado atraí o certo.

- Eu não ligo para isso...É uma pena que acha que o amor seja isso. Eu, antes de te conhecer, não acreditava em amor. Mas agora eu...Eu só não sei explicar, mas posso sentir intensamente. E com a burrice que me foi dada eu vou esperar você amadurecer e precisar de alguém para se apoiar, seja amor ou sei lá o que, mas vou esperar. Por que quero sentir para sempre essa coisa que não posso explicar. - Convicção, nossa, posso sentir a convicção dela ao dizer isso. Ela não me parece mais alguém fraca, ouça só a voz dela agora! Nem parece a mesma mulher esparramada. Será que falar com esse cara faz tão bem assim para ela? Agora estou em dúvida. Será que ela é apenas uma daquelas que gosta de se apoiar em paixões ou amores, ou é uma daqueles seres misteriosos que sabem o que é amor de verdade? Eu não sei, espero que até o final eu possa saber.

- Eu... - E ele ficou em um silêncio estranho. Acho que ela conseguiu derrubar o muro que havia entre eles e finalmente conseguido cutucar o coração frio dele. Será? Bem, eu sou uma romântica e me obriguei a acreditar nisso, talvez eu esteja enganada, mas talvez não. Espero que pelo menos um de nós esteja certo, não é? Não, não vamos apostar...Sempre perco nessas coisas. - Tenho que desligar. Tchau... - Ele demorou tanto para desligar que ela, eu e você ficamos na expectativa de ouvir mais alguma coisa, mas...Ele finalmente desligou. Acho que, assim como nós, ela percebeu que conseguiu atingí-lo, pois eu vi aquele sorrisinho triunfante nos lábios dela, você viu?

Ela respirou fundo, deixou o telefone de lado e caminhou até o sofá novamente, mas não se sentou. Abaixou-se, pegou os sapatos e o vestido e os guardou. Antes de colocar o vestido no armário ela o olhou com um sorriso saudoso nos lábios. Acho que esse vestido puído deve trazer boas lembranças, não é? Talvez de uma festa onde dançou até não conseguir mais ficar de pé, ou de um jantar romântico com aquele cara estranho do telefone...Tanto faz. Lembranças boas são algo que dão sentido e força para continuarmos seguindo em frente, não é? Uma pena que deixam o gosto da saudade...Mas vale a pena pagar esse preço. Ela saiu do quarto e caminhou em direção a cozinha. Ah não! Por um momento achei que ia pegar uma faca e dar uma de louca, credo. Ela é quase uma heróina, não é? Ela tem esperanças em algo que parece estar totalmente acabado...É, tem razão. Talvez ela seja muito boba mesmo.

Ela abriu um armário e tirou uma garrafa de dentro dele. Olha, se ela tirar a mão da frente do rótulo eu posso ver o que é e...Veja! É uma garrafa de tequila, olha lá, Jose Cuervo! Ela tem bom gosto, pelo menos. Ah, para bebidas, né, por que para homens...Melhor não comentar. Mas a garrafa estava vazia...Tão vazia quanto ela se sentia. Espere! Tem alguma coisa no lacre...Veja, parece um bilhete. Se eu apertar um pouco mais os olhos ou colocar meus óculos eu posso ler. "Do seu eterno, com amor e para muitas bebedeiras como a de hoje. Sempre seu, Adam." Nossa, senti até o estômago revirar agora. Como alguém pode dizer "eterno" e depois fazer isso? Acho que é o mesmo cara, por que parece que ela leu e releu o bilhete várias vezes. Agora ela voltou a ser, para mim, uma mulher misteriosa. Não vejo mais se está triste ou feliz. Não está mais esparramada, está de pé...Mas tão...Vazia.

Ela guardou a garrafa vazia de volta ao armário, mas foi tão cautelosa que era como se estivesse cheia, como se a guardasse para uma ocasião muito especial. Será que ela ainda acreditava no para sempre escrito no bilhete? Eu tenho as minhas dúvidas. O "eterno" é uma coisa tão relativa hoje. Cansei de ver pessoas jurando amores infindáveis e no dia seguinte demonstrarem o contrário. Eu cansei de ver o amor banalizado e as esperanças acabadas. Eu acho que não aguento mais ver garrafas vazias por aí. Mas, me diga...E você? Você também tem uma garrafa vazia que, com esperança, espera ver cheia novamente e dividí-la com aquela pessoa? Eu, particularmente, estou querendo uma garrafa cheia, de preferência uma igual a da bela mulher que vimos hoje, mas não para compartilhar com alguém, mas sim para ser entorpecida e não mais perturbada com lembranças...Cansei do gosto amargo da saudade. Bem, boa sorte com a sua garrafa.

domingo, 7 de setembro de 2008

Kuroi Namida

ei, nana...

lembra-se do dia em que nos conhecemos?

eu sou do tipo que acredita em destino e coisas do gênero...

não consigo deixar de pensar que foi obra do destino.

ei, nana...

lembra-se que ficamos, lado a lado, às margens daquele rio...

observamos as luzes que cobriam a superfície das águas?

aquela melodia, que você murmurava naquela época...

poderia cantá-la para mim, mais uma vez...?

naquele momento, não sei...

fiquei com vontade de chorar.

não sei explicar direito por quê...

mas, a mão que nana me estendeu...
era tão quente...

que até aqueceu meu coração.

as coisas de que nana gosta nunca mudam...

e para mim, que sou volúvel...
isso me pareceu muito bacana.

você se parece com uma gata de rua...
cheia de caprichos...
orgulhosa e livre...

você tinha em seu coração uma ferida que não cicatrizava.

e eu, insensata como era...

achei que isso também era parte de seu charme...

sem saber do tamanho da dor que ela lhe causava.

NANA # 2

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sexta-feira, 15 de agosto de 2008

O BLOG

Brilho Eterno de Uma Mente COM Lembranças tem os seguintes objetivos:

- Um pouco de vida pessoal
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O que fazer com uma mente que transborda de lembranças, criatividades e inspirações aleatórias? Um blog, oras!

Bem vindos e aproveitem a leitura ;)