domingo, 5 de outubro de 2008

O Desconhecido Conhecido

O relógio digital muito simples parou de funcionar de repente. Ao invés dos números desaparecerem de sua tela indicando que a bateria havia se esgotado, não, ele simplesmente congelou no tempo. Marcava dez e quinze da noite. Ela ainda não fazia a mínima idéia do por que de seu relógio ter feito aquilo, mas depois de um tempo com toda sua sutileza - para não dizer excesso de distração nos pequenos e fundamentais detalhes - ela ia perceber. Estava frio, uma brisa gélida e a pouco começara a garoar. Faz sentido, não? São Paulo, a terra da garoa.

Ele se aproximou silencioso, ela nem ao menos o notou, sentou-se ao seu lado e arranhou a própria garganta na intenção de chamar a atenção dela. Ela, absorta em pensamentos aleatórios, continuou por não notá-la. Descontente com a leviana falta de atenção de sua nova companheira, ele virou seu rosto na direção dela e disse "Frio, não?" e foi então que ela percebeu que já não estava mais só. Acostumada com a sua maior companheira, a solidão, raramente notava quando alguém lhe dirigia a palavra, normalmente eram coisas simples, frases prontas e ditas em lugares comuns, como "Com licença" ou "Obrigado".

"Sim, mas eu gosto assim" ela respondeu com um meio sorriso tímido nos lábios. Talvez qualquer outra mulher se sentiria intimidada em tal situação, tarde da noite, sozinha no ponto de ônibus com um completo desconhecido ou então uma sortuda, sozinha ao lado de um desconhecido muito bonito. Ela sequer reparou nos seus traços fortes e marcantes, traços que lembravam um estrangeiro ou alguém que jamais viu - o que é difícil, pois se encontra pessoas de traços semelhantes em qualquer lugar - e muito menos deu atenção ao belo par de olhos azuis que lhe fitavam com curiosidade. Ele era um rapaz deveras bonito e agora sorria muito simpático, mostrando o sorriso perfeitamente branco e charmoso. Ela era uma mulher solitária, da maquiagem desbotando e uma roupa preta que lhe apagava qualquer vestígio de vida ou lembrança.

- Interessante. Gosta do frio e do escuro por que lhe reflete o que há por dentro? - Ousadia. Ele adorava esse recurso. Toda a vida fora uma pessoa ousada, dessa vez não seria muito diferente. Ele estava ali por que ela estava, e não estaria se ela não estivesse. Ele esperara tanto tempo por aquele momento e não queria que acabasse de um jeito funesto, mas sim esmero.

- Não... Por que assim eu posso sentir o vento gelado tocando a minha pele. Eu gosto dessa sensação... Isso me faz bem. - Ela sentiu-se incomodada com a ousadia do rapaz, mas já era de se esperar. Era uma garota muito introvertida, tímida e reservada, quando alguém tentava invadir seu pequeno espaço cercado por muros de aço, bem, ela não sabia como agir, mas acreditava que sua defesa estivesse forte o suficiente para ninguém ultrapassá-la.

- Hm entendo. E por que dessa maquiagem tão obscura? Por que essas roupas? Escondendo sua alegria? Privando-se das cores? Eu não compreendo... É uma jovem bonita, deveria valorizar isso. - E ele ajeitou a gola da camisa branca. Ela não havia reparado, até então, em suas vestimentas. Uma calça social risca de giz, uma camisa branca e um casaco comprido cinza escuro. Não parecia um baladeiro voltando para casa, mas sim um mero homem de negócios. Bem, talvez ela estivesse certa em relação a homem de negócios, mas não tão certa. Afinal, existem vários tipos de negócios.

- Eu não entendo por que as pessoas gostam tanto de conversar enquanto esperam ônibus. São desconhecidos...Ninguém sabe da vida do outro. Então por que cada um não aceita seu silêncio e o mistério do outro e simplesmente não pega seu mp3 e fica ouvindo suas músicas favoritas? Eu não gosto de conversar com estranhos. - Ela não é de falar muito, nem mesmo com aqueles que as vezes considera "amigo" ou algo parecido, porém quando é necessário - ou julga ser necessário - ela abre uma exceção. E esses tipos de exceções são raras! Ele começara a acreditar que estava conseguindo escalar um pedacinho do muro em volta dela.

- O que te faz acreditar nisso? Eu sei, por exemplo, que você é uma garota triste e tímida, talvez um pouco ou muito solitária, gosta de usar roupas escuras e maquiagem pesada, também deve gostar de um som mais pesado. Acertei? - Ele terminou sua indagação com um sorriso indescritível nos lábios. Talvez fosse um misto de satisfação ou amabilidade, mas nem ela soube dizer o que era aquele sorriso, mas se sentiu estranhamente familiarizada com ele.

- Parabéns. Você concluiu o mais óbvio de tudo, o que quer agora? Um prêmio? Olha cara, se por acaso você é um assassino maluco ou um tarado... Tudo bem vá em frente. Pode me matar me faça esse favor. - Agora havia um traço de incômodo em sua voz e suas expressões. Ela detestava quando alguém tentava se aproximar desse jeito, principalmente quando chegava tentando desvendar aquilo que, em tanto tempo, ela lutou para cobrir e proteger. Ela não queria que mais ninguém se aproximasse o suficiente para apunhalá-la novamente.

- Hmm... Agora sei de mais uma coisa. Além de tudo o que disse antes, você também é infeliz... E não quer mais viver. E pode ficar tranqüila, não sou um tarado, muito menos um assassino. Eu acho que você está me subestimando. Sou Sabinus*, prazer. - E ele lhe estendeu a mão. Atualmente ninguém faz isso, ou quando faz é alguém realmente idoso e cortês, mas um homem tão jovem como ele não deveria tê-lo feito.

- Pare de agir como se me conhecesse. A gente não se conhece. E oi, Sabinus. Nome estranho o seu... Não é daqui, é? Estranho, seu português é bom, nem parece estrangeiro. Ah, eu sou Helena. - Ao ouvir ele se apresentar sentiu um calafrio, um arrepio que lhe percorreu a espinha e eriçou os pêlos de sua nuca. Ela não entendeu o gesto dele - mas deveria ter compreendido o que aquilo significava - mas mesmo assim lhe estendeu a mão também, porém ficou surpresa quando o viu beijar as costas de sua mão gelada e pálida. - Cara, você consegue ser mais esquisito do que eu. - E isso para ela era um record. Sentia-se no mundo e na vida como Bob Harris (Bill Murray) em Lost in Translation, um filme de Sofia Coppola.

- Helena... Significa tocha. Indica uma pessoa que está sempre olhando dentro de si buscando sua verdadeira personalidade. - E então ele sorriu. Um sorriso atípico era como se o raiar do sol estivesse naquele sorriso, ela até mesmo pode sentir a sensação a vista sendo ofuscada pelos raios intensos. - É meu nome é estranho mesmo. Mas não se deixe levar por isso, é apenas um detalhe. - E ele fitou discretamente a mão dela e parou de sorrir. Agora estava sério, mas era incrível como ficava belo até mesmo sério, um ar enigmático envolvia-o. - Diga-me, Helena. Por que está aqui? – Ela ficou tão surpresa com a pergunta que até hesitou responder por alguns momentos, era tão óbvio o motivo! Por que então ele, que se julgava saber tanto, não percebia? Por educação ela acabaria por responder o que acreditava ser a verdade.

- É só um nome, e um nome não diz nada sobre ninguém. É apenas uma coisa que minha mãe escolheu assim não precisaria me chamar de qualquer coisa, mas não que isso faça diferença agora. - Encolheu os ombros tentando dar um ar de desdém, quisera ela voltar e não dizer aquilo, pois sabia que logo ele usaria o que dissera como argumento de que estava revelando o enigma “Helena”. – Ué, eu estou aqui pelo mesmo motivo que você. Estou esperando o ônibus para... – E pensou. Por que estava esperando aquele ônibus? Não tinha mais casa para voltar, não tinha para onde ir. Só passaria a segunda noite vagando pelas ruas não tão seguras da cidade e buscando algumas respostas para perguntas que nem ela sabia quais eram. – Bem, ônibus para ir pra casa. – Ela se julgou tão esperta em lhe esconder um fato! Achou que era seu primeiro triunfo, achou que agora quem estava sob comando era ela. Mas pouco sabia da verdade, ainda estava cega por seus medos.

- Não é só um nome. Mesmo que sua mãe não tenha o escolhido propositalmente, bem, ele tem tudo a ver com você. Talvez ele seja o culpado por tudo isso. – E havia uma sinceridade tão forte em suas palavras e seu tom de voz que ela não conseguiu desacreditar, até tentou, mas falhou. – E por que não faz diferença agora? Sua mãe deve gostar do seu nome, afinal, ela o escolheu para você. – Ele resolveu tentar fazer com que ela falasse um pouco mais sobre isso, mesmo que já soubesse grande parte das respostas. – Mas o meu motivo não é voltar para casa, Helena. O meu motivo é outro. – E deixou que o silêncio cobrisse tudo com mistério, queria induzir a curiosidade dela e testar até onde poderia chegar. E ele não conseguiu conter o riso ao notar o ar de triunfo dela, pobrezinha! Julgava-se tão esperta perante a ele, mas mal sabia que ele podia ver através de seus olhos turmalina e tristes.

- Tanto faz... Não vou culpar os meus problemas a um nome. Nome é só nome. – Ela não queria dar o braço a torcer, não queria parecer burra diante de um homem como ele, um homem que... Bem, ela não sabia direito o que, mas ele era diferente. – Não faz diferença por que minha mãe está morta. – Ela falou em tom amargo. Suas expressões mudaram e ela respirou fundo tentando parecer normal de novo. Normal? Ah, não. Normal e Helena não eram duas coisas que combinassem em uma única frase, talvez só se fosse “Helena não é normal”. – Então qual é o seu motivo? Ficar enchendo meu saco e bisbilhotando o que não tem nada a ver com você? Será que o seu passatempo é ficar tentando saber da vida dos outros? Cara se quer bisbilhotar a vida alheia vá para o Orkut, aquela merda só serve para isso mesmo. – E agora havia o rancor. A ferida estava sangrando e ela destilava seu veneno armazenado em seu ódio, seus medos e coisas que nem sabia o nome.

- Não foi sua culpa. Ela se foi por que tinha que ir. E não foi por que você causou algum desastre. Todo mundo tem sua hora, Helena. Assim como a sua vai chegar um dia, mas não creio que seja muito em breve. – Ele não era de todo muito mal ou um jogador completamente manipulador, também era – em esporádicas vezes – sincero e até mesmo confortador. – O meu motivo é você. Eu estou aqui por sua causa. E esperei muito tempo por essa conversa... Esperei muito tempo para poder me desculpar com você. – E ele cansou de adiar o inadiável. Sabia que tinha outro trabalho a fazer e era longe dali – não que distância fosse um empecilho para alguém como ele, longe disso – e também queria ajudá-la logo, pois a dor dela era tão gritante que lhe causava certo desconforto.

- Cara... Chega! Você tá começando a me irritar. Que filosofia barata de caminhoneiro é essa!? Olha, se você pensa que vou para um motel com você só por que está fingindo me entender ou ser simpático, foda-se você! Apenas me deixe em paz... – Ela levantou-se e deu um passo para trás. Sentia uma vontade imensa de correr para longe dali e ouvir suas músicas favoritas, assim talvez se esquecesse das lembranças que lhe voltaram a assolar a mente, mas não conseguia. Suas pernas não obedeciam a ordem de correr e o máximo que conseguiu foi um mísero passinho para trás.

- Não é filosofia barata. Agora me escute, por favor. Eu vejo a sua dor, eu sinto a sua dor. Eu causei a sua dor. E eu não costumo fazer esse tipo de coisa, mas você foi tão diferente dos outros... Eu faço o que tenho que fazer e sei que é cruel, mas às vezes sinto-me culpado por ver as conseqüências que isso causa nas outras pessoas. – Agora ela já não entendia mais nada. Que tipo de coisas ele estava falando? Será que além de esquisito ele estava sob efeito de drogas? Ela estava sentindo como se o chão sólido debaixo de seus pés desaparecesse – e aquela era uma situação muito comum para ela – e não podia fazer nada para se defender. Seus muros caíram por terra e agora era tão vulnerável quanto um bebê.

– Você está sozinha. Você não pode voltar para casa por que não sente mais que aquilo é um lar. Você não agüenta a solidão, o abandono... Você não consegue entrar lá e ver todos aqueles quadros, você não consegue aceitar que a morte levou a tantos que você um dia se importou, mas deixou você aqui... Não lhe deu o direito de morrer, de descansar em paz, lhe deixou para os abutres comer pedaço por pedaço do que resta da carcaça, já que por dentro se sente vazia. – E ela sentiu medo. Seus muros não só haviam caído, mas ele havia entrado e desvendado seus sentimentos mais profundos. Como é que um estranho podia fazer aquilo? Como ele sabia tanto sobre ela? E por mais uma vez desejou morrer... Talvez assim a dor latejante cessasse e ela pudesse descansar em paz.

- Eu não posso te levar agora por que você tem uma missão, um destino. Um dia eu voltarei e nossa conversa será diferente, mas por hoje isso é tudo. Você tem que enxergar que existem muitas outras pessoas no mundo, embora nem todas vão lhe estender a mão e beijá-la, algumas poucas o farão. Então trate de aproveitar a chance de ter essas pessoas em sua vida. Não se feche mais nessa concha, por que só irá sofrer. Não deseje a morte, por que agora não é a sua hora. No livro seu nome não está escrito nas páginas desse presente, nem mesmo em um futuro breve, mas sim distante. Então não sinta mais pena de si mesma e comece a olhar mais atentamente dentro de si, por que uma hora irá encontrar a força que precisa. – A cada segundo tudo ficava ainda mais estranho. O olhar dele agora tinha um brilho quase sobrenatural e ela sentia-se tão aberta e tão restaurada que não conseguia compreender. Era como se aquele fardo pesaroso e doloroso sobre seus ombros estivesse, aos poucos, desaparecendo.

- Que...Quem é você? – Ela estava tão curiosa, mas com tanto medo que mal conseguia falar sem gaguejar. Ela começou a olhar ao seu redor buscando qualquer outra coisa estranha que indicasse que aquilo era um sonho ou pesadelo, mas as gotículas da garoa ainda provavam que aquilo era tão real quanto podia ser.

- Eu sou um desconhecido conhecido. Veremos-nos daqui muitos anos, Helena. E vá para casa, para sua casa de verdade. Para de fugir... Para de procurar as respostas nos lugares errados. Eu sei que tem alguém te esperando lá e essa pessoa está lhe esperando com a mão estendida. Não jogue essa oportunidade fora, agora vá, seu ônibus chegará em breve. – Ele sorriu amigavelmente e revelou a ela um olhar terno e quase carinhoso. Ela pode então ouvir o barulho do ônibus se aproximando e virou o rosto depressa para ver se era mesmo o seu ônibus, mas quando voltou o olhar para o desconhecido Sabinus notou que ele havia simplesmente desaparecido. Não havia onde se esconder ali, não em um lugar que ela não pudesse ver... Aquilo era mais um detalhe para tornar aquela noite inesquecível e estranha, mas ao mesmo tempo reveladora. Respirou fundo, ajeitou o sobretudo e deu sinal para o ônibus.

Sentada em um assento da última fileira de bancos ela olhou para a janela. E então ela o viu novamente. Ele a encarava de modo misterioso, mas também incentivador. Era quase como se sussurrasse em seu ouvido – e ela jurou que pode ouvir – Vá em frente, não vá desistir agora. E então olhou para o relógio. O seu relógio digital no pulso esquerdo. E para sua surpresa e espanto ainda eram apenas dez e vinte e um. Haviam se passado seis minutos desde que seu relógio resolvera congelar, então... O que foi aquilo? Ela jamais soube dizer ou compreender, mas aquilo vez com que ela conseguisse enxergar coisas que não via antes, pois seus medos e dores não permitiam. Voltou para casa após tanto dia dormindo em casa de amigos ou conhecidos, voltou para casa após deixar sua maior dor isolada dentro de um apartamento com quadros bonitos.

- Helena! Você voltou! Ah, minha querida... Fiquei tão preocupada! A polícia disse que você era maior de idade e se quisesse ir embora, bem, não poderiam fazer nada... Mas você voltou! Fiquei tão preocupada! – A senhora de cabelos grisalhos abraçou a garota com tanta força e carinho que até parecia estar surpresa em vê-la viva e bem. – Eu sei que é difícil, minha querida. Mas nós iremos conseguir... Venha comigo, tem alguém aqui que quer lhe ver. – E a senhora agarrou a mão gelada da jovem e começou a conduzi-la para o interior do apartamento antigo, que era consideravelmente grande. Ao chegarem a um dos quartos de hóspedes ela sentiu seu corpo congelar. Aquela visão foi tão chocante quando os minutos congelados que vivera com aquele desconhecido.

- Pai!? – Ela falou surpresa. Não o via a tantos anos que parecia uma aparição ou algo parecido. Ela não sabia por que ele havia partido, mas agora precisava tanto de uma mão estendida para se levantar que deixaria as explicações para depois.

- Eu voltei minha menina. Voltei por que sei que agora é um momento difícil para todos nós. Eu voltei por que um amigo me disse que era hora de voltar. – E ela correu para os braços do pai e os dois se abraçaram. Um abraço tão completo, um abraço que não era dado a cerca de sete anos. Helena achava que o pai estava morto, pois não lhe mandava cartas há meses e havia desaparecido totalmente, ela jurou que não ia perdoá-lo por abandoná-la em momentos tão difíceis, mas via que ele estava tão abatido – ou mais – do que ela mesma.

- Um amigo? – Disse a vovó grisalha e sorridente.

- Sim, mãe. Um desconhecido conhecido. – E Helena e o pai se encararam e sorriram. Como aquilo era possível? Como? Ela não sabia nem por onde começar a tentar entender tudo aquilo, mas de uma coisa ela sabia... Um desconhecido conhecido fazia grandes mudanças nas vidas das pessoas, pois naquele dia, naquele tempo congelado, ele havia devolvido à ela uma coisa que nem se lembrava de como era...A esperança.
___________________________________________________________________

Escrevi esse texto por que sei que muita gente deseja a morte, muita gente se sente tão desamparado e solitário que não consegue enxergar as pessoas ao seu redor com as mãos estendidas e querendo ajudar. Talvez você esteja como Helena e precise de uma mão estendida para se levantar...Então não espere seu relógio parar ou um desconhecido conhecido, faça isso por si mesmo.

* Sanubis: Anagrama para Anúbis (ver mitologia egípcia)

Um comentário:

Anônimo disse...

Nemli (Geez, que gigante, mais tarde eu leio. XDD)