quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Ele também não quer ficar mudo...

E abaixo vai a resposta do meu PAI. Que chorou e me fez chorar... E dessa vez de alegria e emoção.


Aline,

Você me fez chorar, pode não parecer, mas eu também choro!

Agradeço cada palavra que você escreveu aqui. Confesso que cometi e cometo muitos erros e um dos que mais me doem é ter desfeito nossa família, o que lhe trouxe muita insegurança, incertezas, revolta, sentimento de perda. Hoje eu consigo perceber de forma mais clara o que a família (pai e mãe) representa na vida de uma criança. Infelizmente não amava sua mãe (devo desculpas a ela por tê-la feito sofrer também), mas deste relacionamento que não deveria ter se concretizado (casamento), nasceu você – uma menina linda, maravilhosa e que eu adorava dar banho, fazer dormir, tirar fotos, levar para passear – Paraty, Beto Carreiro, Pq da Monica, cavalgadas (fiquei te devendo algumas e acampar também), etc. Hoje adoro mais ainda!

Além da separação, minha vida profissional teve uma reviravolta e na mesma época subi bastante na empresa. Mas isso significou mais ausência ainda, pouca conversa ou encontro com você. Por um lado, ajudou a melhorar nossa situação financeira e por outro causou mais distância. Hoje vejo que o preço foi bem alto, mais até que o salário que passei a receber.

Você não me deve desculpas, por isso não há porque desculpá-la. Como você disse a gente comete acertos e erros em nossas vidas, ou melhor fazemos escolhas e com base nelas é que teremos aquilo que buscamos ou merecemos.

Tudo isso que fazemos em nossa adolescência e juventude é parte de um processo de aprendizado – uma coisa é os pais falarem a seus filhos o que é bom ou ruim, outra é eles mesmos vivenciarem a situação e aprenderem se foi bom ou ruim. Uma criança só aprende a andar – andando - caindo, levantando, aprendendo. Cabe aos pais apenas orientar, mas a vivência tem da própria pessoa (filhos) tem que ocorrer. Tenho certeza que muita coisa que você já vivenciou até agora e ainda vai vivenciar será parte da construção de sua vida, seus valores.

Eu tento apenas te mostrar algumas possibilidades, aquelas que em minha visão poderão te evitar aborrecimentos futuros (pela minha experiência) ou que poderão te trazer melhores resultados. Tenho a plena noção de que já falhei bastante, mas também sei que tenho virtudes e alguns exemplos que você pode seguir.

Não tenha raiva do seu avô, ele não é má pessoa. É o jeito dele. Cometeu vários deslizes na vida, mas todos nós cometemos. Acho que falta a ele saber ouvir e ter mais sensibilidade. Hoje ele me respeita, porque acho que ele considera que eu soube crescer e ser alguém. Seja pela minha ascensão profissional, seja pela condição financeira, etc.

Sua mãe também é ótima pessoa, tem um gênio forte, mas sempre cumpriu com seu papel de mãe e dona de casa (ela foi educada para isso pelos seus avós João e Mary). Ela só trabalhou e tentou estudar porque eu fiquei no pé dela. Nisso admito, sou um chato. Também peguei no pé dela em relação ao cigarro. Mas o mundo também precisa de caras chatos. Senão vira bagunça, se tudo puder imagina como o mundo ficará. Aliás acho que já está essa bagunça porque os pais de hoje não sabem colocar limites em seus filhos. Se os filhos não respeitam nem os pais, vão respeitar quem?

Estou desempregado, foi uma escolha que fiz. Eu estava trabalhando das 8 às 22h durante a semana e às vezes de final de semana. Mal conseguia tirar alguns dias de férias. Decidi me dar mais tempo e a Laurinha também merecia isso. Quando você era pequena consegui acompanhar seu crescimento porque a empresa ainda era controlado pelo governo. Sei que há um preço a ser pago, minha carreira parou. Não tem mais salário nem benefícios.

Como Laurinha vai fazer 2 anos e em 2008 pude acompanhar essa fase maravilhosa do crescimento (dentinho, andar, sorrir, falar, etc.), vou procurar algo para fazer. Algo que traga alguma renda para nosso futuro. Está bem difícil, mas vou tentar com mais dedicação.

Tenho te aconselhado você em relação à carreira profissional para que tenhas um bom futuro. Farei o que puder para te dar condições para fazer um bom curso universitário, há uma pequena poupança para isso – você sabe. Mas não é muito, por isso conto com seu apoio (trabalho) e dedicação (nos estudos).

Sei que você será uma excelente profissional, você tem bons valores morais, escreve muito bem (valeu o estímulo à leitura, idas ao teatro, viagens), tem repertório, é rápida e decidida. Até entendo seu lado, durona. Hoje em dia no mundo do trabalho é melhor ser durão, pois se for muito bonzinho (meu caso) os outros te passam a perna. Infelizmente não deveria ser assim, mas é.

A Laurinha te adora e eu também, tente ficar mais perto da gente. Será maravilhoso. Sei o quanto é difícil conviver com outras pessoas que foram agregadas pela nova família (tenho muita dificuldade com a Stefanny). Perco meu humor e as vezes até brigo com a Eliane. Acho que estou tendo dificuldade em aceitar que ela também sente que perdeu a dedicação exclusiva que recebia da mãe e que acabou de sair da adolescência.

Vou ficando por aqui, mas gostaria muito de conversar sobre isso com você muito mais vezes. Seja pessoalmente ou por e-mail. Quero que saiba que eu te amo muito e sinto muita falta de você. Por isso trate de reservar mais espaço na agenda para mim e Laurinha, rs.

Um grande beijo e forte abraço de seu pai.

P.S. só li o e-mail hoje. Você escreve muito bem.

Um comentário:

. Bekinha . disse...

Fico muito feliz por vocês, Li !

Enquanto isso, to com audiência marcada pra março, não sabe da última, agora meu pai que tá processando a gente ._.

depois te conto !

Beijos, maninha =*